OSH, Quirguistão (Reuters) - O Quirguistão concedeu às suas forças de segurança o poder de atirar para matar e apelou por ajuda da Rússia, neste sábado, para por fim a confrontos étnicos que mataram pelo menos 77 pessoas e deixaram em chamas partes de duas grandes cidades.
O governo interino do país, que é uma ex-república da extinta União Soviética e possui em seu território bases militares norte-americanas e russas, decidiu numa reunião tarde da noite mobilizar parcialmente reservistas militares para combater a pior onda de violência desde a deposição do presidente, em abril.
As autoridades autorizaram as forças de segurança a atirar para matar nas regiões de Osh e Jalalabad, no sul do país, onde gangues armadas vêm pondo fogo em casas e negócios de pessoas da etnia uzbeque, ignorando o toque de recolher.
O uso de força letal foi permitido para a defesa dos civis, em autodefesa e no caso de ataques armadas ou em massa, nas áreas onde foi declarado estado de emergência, assinalou o governo em um decreto.
"Nós precisamos que entrem em ação forças de segurança de fora da área para acalmar a situação", afirmou a repórteres, antes do decreto, a líder interina do governo, Roza Otunbayeva. "Nós fizemos um apelo à Rússia por ajuda e eu já assinei a carta endereçada ao presidente (russo) Dmitry Medvedev."
Mas a Rússia afirmou que agora não é hora de intervir.
"É um conflito interno e por ora a Rússia não vê condições de tomar parte na sua solução", disse a porta-voz de Medvedev, Natalya Timakova, segundo a agência de notícias Interfax.
O Quirguistão tem 5,3 milhões de habitantes e é um Estado pobre da Ásia Central. O governo declarou na manhã de sexta-feira estado de emergência em Osh e vários distritos rurais depois que gangues de grupos étnicos rivais entraram em choque usando armas, barras de ferro e coquetéis molotov.
O reinício dos tumultos no Quirguistão vai alimentar preocupações na Rússia, EUA e na vizinha China. O governo norte-americano usa uma base aérea em Manas, no norte do país, situada a cerca de 300 quilômetros de Osh, para suprir suas tropas no Afeganistão.
Foi interrompido o suprimento de gás para Osh, palco de tiroteios na sexta-feira e neste sábado, e algumas áreas ficaram sem eletricidade.
"Todos os lugares estão em chamas: casas, restaurantes e cafés de uzbeques. O país inteiro está coberto de fumaça", disse Dilmurad Ishanov, que atua na defesa dos direitos humanos e é da etnia uzbeque. "Nós não precisamos das autoridades quirguizes, precisamos da Rússia. Precisamos de tropas. Precisamos de ajuda."
A violência e o toque de recolher se estenderam para a região de Jalalabad, neste sábado, onde irrompeu a violência em uma universidade uzbeque.
O Ministério da Saúde informou que pelo menos 77 pessoas foram mortas, seis delas em Jalalabad, e mais de mil ficaram feridas na violência nessa região, no sul do país, poderosa base do presidente Kurmanbek Bakiyev.
Bakiyev foi deposto por uma revolta popular em 7 de abril. A líder interina, Otunbayeva, disse que a cifra final provavelmente será maior.
O Quirguistão, país que se tornou independente com o colapso da União Soviética, em 1991, está passando por conflitos internos desde a revolta que derrubou Bakiyev, o que faz surgir o temor de uma guerra civil.
Partidários de Bakiyev, agora exilados na Bielo-Rússia, tomaram por um curto período edifícios governamentais no sul em 13 de maio, desafiando o governo central de Otunbayeva, na capital, Bishkek.
Os últimos confrontos marcam a pior violência étnica no país desde 1990, quando o então líder soviético, Mikhail Gorbachev, enviou tropas à região depois que centenas de pessoas foram mortas em Osh e arredores.
A Rússia informou que vai discutir a situação atual na segunda-feira na reunião do grupo de segurança que reúne ex-repúblicas soviéticas, conhecido como Organização do Tratado de Segurança Coletiva.
O Quirguistão e o Uzbequistão estão entrelaçados no Vale de Fergana. Embora os uzbeques perfaçam perto de 14,5 por cento da população quirguiz, os dois grupos têm praticamente a mesma proporção nas regiões de Osh e Jalalabad.
O governo agora enfrenta um grande desafio ao tentar retomar o controle da área, disse Lilit Gevorgyan, do IHS Global Insight. "A explosiva combinação de uma contra-revolução e um conflito étnico representa a maior ameaça para o futuro da revolução quirguiz."
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